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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Middle East News

ORIENTE MÉDIO E UM OLHAR CRÍTICO


Fonte: TERRA


Retirada dos EUA e crise na Síria podem mudar poder no Oriente
23 de janeiro de 2012


TARIQ SALEH
Direto de Beirute
A possibilidade da queda do regime do presidente sírio Bashar al-Assad, devido ao levante popular que já dura 10 meses, e a retirada das tropas americanas do Iraque podem indicar uma mudança no mapa do poder no Oriente Médio, segundo analistas ouvidos pelo Terra.
Para eles, o Iraque passará a estar dentro da esfera de influência iraniana de forma mais intensa, enquanto que na Síria, caso o regime seja derrubado pelos levantes populares, um futuro governo deverá ser menos hostil aos Estado Unidos.
EUA e Irã passam por um momento de crescente tensão por conta do programa nuclear iraniano, que países ocidentais dizem ter fins bélicos. O governo iraniano nega e diz que seu programa tem fins pacíficos. O país sofre com sanções econômicas aprovadas pelas Nações Unidas.
Segundo o analista Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute, a retirada das tropas dos Estados Unidos do Iraque, finalizada no final do ano passado, deixou o país sob uma forma de influência política, mesmo que ainda discreta, do vizinho Irã.
"Com a saída americana, o Irã pode ter ganho um Estado dependente no Iraque, mas também está correndo o sério risco de perder seu maior aliado árabe, a Síria. Já os americanos podem perder parte de sua influência com os iraquianos, mas ganhariam maior diálogo na Síria pós-Assad, um país de extrema importância no mundo árabe", salientou.
Para ele, no caso de um cenário como esse, a mudança de poder poderia criar "novos riscos de guerra ou oportunidades de paz no triângulo Israel-Síria-Líbano", já que os americanos teriam canais de diálogo facilitados com três atores essenciais no conflito árabe-israelense.
"Desde a queda de Saddam Hussein, em 2003, os iranianos vêm cultivando uma rede de influência no Iraque, tanto com a maioria xiita quanto com os grupos sunitas e curdos do país", explicou Salem.
Segundo ele, embora os EUA mantenham uma enorme embaixada, com um grande contingente de funcionários em Bagdá, a saída de suas tropas do território iraquiano sinaliza novas oportunidades para o Irã, que deve aumentar e consolidar sua influência junto aos diversos grupos políticos do Iraque, ganhando um aliado no mundo árabe árabe, onde a maioria dos governos se opõe ao país persa.
Mas Salem alerta para o fato de que ainda há um sentimento de desconfiança em relação ao Irã entre os iraquianos. ¿Os dois países estiveram em guerra nos anos 80, e o governo iraquiano também prefere manter um relacionamento com os americanos. Não será fácil para o Irã dominar seu vizinho árabe".
Eixo americano
Para o cientista político Bahgat Korany, da Universidade Americana do Cairo, um futuro colapso do regime sírio seria uma perda substancial para Irã e os grupos militantes Hezbollah, no Líbano, e Hamas, dos Territórios Palestinos.
"Os iranianos já sabem que podem perder a Síria - o presidente Bashar (al-Assad) enfrenta manifestações crescentes pelo país, deserções do exército e oposição armada contra o governo e as sanções econômicas que já começam a serem sentidas, deixando a economia em crise", disse Korany.
Segundo ele, o regime sírio ainda perdeu seus amigos no mundo árabe e a Turquia, deixando o país isolado. "Se o regime sírio cair, um futuro governo se relacionaria com governos árabes e a Turquia, aliados ou alinhados a Washington, que, por sua vez, exerce grande influência nestes países".
Para o analista, a Síria pode acabar parte de uma espécie de "eixo americano" - com Árabia Saudita, Egito, Jordânia e Israel formando uma frente contra o Irã. "Seria um golpe muito grande para o governo iraniano se perder a Síria", enfatizou Korany.
Paz ou guerra?
Em uma entrevista recente para o jornal americano Wall Street Journal, Burhan Ghalioun, líder do Conselho Nacional Sírio, que reúne políticos de oposição exilados contra o regime na Síria, disse que um novo governo no país cortaria os laços estratégicos com o Irã e iria interromper a transferência de armas para o Hezbollah.
"Se o regime de al-Assad cair, não será apenas a Síria que o Irã perderá, mas também seu acesso estratégico ao Hezbollah e ao Hamas, além do acesso à fronteira com Israel, significando um período de redução da influência iraniana no Oriente Médio", explicou Paul Salem, do Centro Carnegie em Beirute.
Há anos que EUA e Israel acusam a Síria de fornecer armamento e apoio político para o grupo libanês Hezbollah e o palestino Hamas.
Para Salem, certamente que o eixo americano, com a Síria incluída, daria mais poder aos EUA para enfraquecer Irã, Hezbollah e Hamas, que não contariam mais com o apoio do regime sírio. Ele explica que o Hezbollah, por exemplo, que recebe treinamento, armas e apoio financeiro do Irã através da Síria, ficaria estrategicamente vulnerável.
"Se Israel perceber que poderia lançar outra guerra sem que o grupo libanês pudesse se rearmar, como ocorreu em 2006, as condições para um novo conflito entre os dois estariam criados e um novo balanço de poder na região do Levante (Líbano, Síria, Jordânia e Israel/Territórios Palestinos)", falou Salem.
Bahgat Korany, da Universidade Americana do Cairo, concorda que uma guerra poderia acontecer no caso de troca de influências entre EUA e Irã. Mas também salienta que um avanço de negociações de paz entre Israel e Síria (e até o Líbano) pode ser uma consequência desta possível nova ordem geopolítica.
"Os EUA poderiam usar sua influência para que o triângulo Síria-Israel-Líbano chegasse a um acordo de paz, caso o Hezbollah e Irã estivessem enfraquecidos".
Para ele, qualquer novo governo na Síria gostaria de ter de volta as Colinas de Golã, anexadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. "O Conselho Nacional Sírio já deu indícios de seus interesse em negociar a devolução das Colinas de Golã", completou Korany.
"Claro que palavras de negocição com Israel feitas pelo Conselho Nacional Sírio podem ser apenas para agradar e ganhar apoio americano contra o regime de al-Assad. Mas há a possibilidade de haver uma tentativa nisso sentido caso um novo governo se inbstale em Damasco", completou ele.
Já no Líbano, segundo Paul Salem, o Hezbollah sentiria a necessidade de se adaptar às novas realidades da região, sem o apoio sírio, e desarmar seu braço militar e integrar-se a uma estratégia de defesa nacional do governo libanês em troca de negociações para a devolução de territórios libaneses sob ocupação israelense, como as Fazendas de Shebaa e a pequena cidade de Ghajar.
"Uma sucesso de negociações de paz sírio-israelense poderia, também, incentivar o processo de paz entre palestinos e Israel", disse Salem. "Uma coisa já é certa, a Primavera Árabe está mudando o balanço de poder no Oriente Médio. Os efeitos serão sentidos em um médio e longo prazo. Para bem ou para mal".

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