É o texto Quase ministro, comédia em um ato do brilhante Machado de Assis. Uma história atual, no momento em que a presidente Dilma Rousseff se vê mais uma vez às voltas com problemas na sua equipe de assessores diretos.
Disposta a substituir Carlos Lupi no Ministério do Trabalho, a presidente determinou que se buscasse um nome sem manchas nos quadros do PDT. Alguém que ocupasse a cadeira na Esplanada dos Ministérios até o fim do governo, sem que sobre ele racaisse qualquer suspeita.
Não demorou e chegou-se ao nome do deputado brasiliense Antônio Reguffe. Afinal, pelo espaço que ocupa na mídia, o parlamentar é exemplo de dignidade. Avesso, como costuma dizer, a qualquer tipo de trapaça, ele apresentava-se consequentemente com o perfil de político íntegro, ideal para recompor a equipe ministerial.
Porém, já calejada com surpresas desagradáveis, a presidente mandou que fosse feita uma operação pente fino em torno do nome. Um Raio X completo. A partir daí, Reguffe, já avisado por amigos próximos que seria o primeiro representante de Brasília na equipe de Dilma, começou a ser cumprimentado, sendo cortejado para almoços e jantares.
Enquanto isso, o Palácio do Planalto investigava o pretenso escolhido. E descobriu que Reguffe, ao contrário do que se supõe, não é tão imune a erros. Dilma recebia no gabinete presidencial Carlos Lupi quando foi interrompida. Sobre sua mesa foi colocado um papel em que se lia que Reguffe não poderia ser ministro. É ficha suja.
O deputado foi servidor do Senado Federal. E, pior, funcionário fantasma. Foi nomeado por ato secreto de Agaciel Maia, então diretor-geral da Câmara Alta. Reguffe virou assessor de José Roberto Arruda quando o ex-governador do Distrito Federal era líder do PSDB.
Com a crise do painel eletrônico que provocou a renúncia de Arruda, o então assessor foi removido, novamente por ato secreto, para o gabinete do tio Sérgio Machado, tucano pelo Ceará, que ficou com a cadeira de Arruda na liderança do partido. No gabinete de um aparentado, mais fácil tornou-se para o agora deputado vestir o manto de servidor fantasma.
O quase ministro - tomando emprestado o título da comédia de Machado de Assis - foi servidor fantasma entre quatro e seis anos. Enquanto esteve nessa condição, Reguffe fez viagens inetrnacionais com dinheiro público. Uma delas ao Oriente, desconhece-se se Japão ou China, para um curso de Origame (aquele que ensina a fazer bichinhos com papel).
O Palácio do Planalto desistiu de fazer de Reguffe ministro do Trabalho. Cabisbaixo, como na comédia de Machado de Assis, o deputado jantou com um fiel escudeiro nesta quarta-feira 16. Informados a tempo, os convivas para a mesa desistiram de dizer presente. Avaliaram que, se a máscara caiu, não queriam ser fotografados ao lado do desmascarado.
COMENTÁRIO DO BLOG
A Bíblia diz que "aquele que quer tirar o cisco do olho do próximo, deve primeiro tirar a trave do seu próprio".
Fico observando os "justiceiros" de plantão que sempre querem fazer justiça a qualquer preço e de qualquer forma. Geralmente não suportam um olhar com mais acuidade, para serem pegos.
Confesso que nunca vi com bons olhos as faixas espalhadas pela cidade (Reguffe vem aí). Nem sabia quem era. Mas que enganou muita gente, enganou.
Lembro que quando a CLDF me indicou para receber o Título de Cidadão Honorário, que muito me honrou, o único que votou contra foi justamente Reguffe.
Bem, nada melhor que um dia melhor que o outro.
Eu já sabia de longa data que o guapo tinha sido Gasparzinho no Congresso, mas agora todo mundo sabe também.