Fonte: correioweb.com
Laurineide em ação, no SIG:"A única coisa que me entristece de verdade é a violência de Brasília"
O dia começa cedo para Laurineide da Silva Oliveira. A piauiense de 37 anos, levanta às 5h, prepara o café da manhã, penteia os cabelos descoloridos, passa o batom e, uma hora depois, está pronta para a labuta. Às 6h, o ônibus da empresa onde trabalha a busca em uma parada perto de casa. Logo cedinho, com a vassoura e o carrinho de limpeza a postos, Laurineide ajuda na tarefa de manter Brasília como título de uma das cidades mais limpas do Brasil. Até aí, a rotina de Laurineide seria a normal de um gari. Porém, a cada varrida, a funcionária de limpeza urbana solta a voz grave, canta e transforma a rua em um palco.
O fiel fone de ouvido conectado ao celular age como o playback. Ouvindo a música no fundo, ela não perde o tom nem o tempo da melodia, e deixa o espetáculo a céu aberto ainda mais curioso. Difícil é alguém passar pela rua sem lançar, pelo menos, um olhar ou sorriso de canto de boca para a inusitada cantora. O público mais interativo bate palmas, assobia e dá apoio. Afinal, tanta alegria contagia quem está chegando ao trabalho.
As músicas prediletas que não saem da boca de Laurineide são as evangélicas. Ela tem carinho especial pelo cantor Mattos Nascimento. Para sentir-se mais próxima de Deus, a gari fecha os olhos, gesticula os movimentos dos cantores gospel e começa a varrer, na melodia da música. Todos os dias, ela trabalha das 7h às 15h no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) e, com sua cantoria diária, angariou fãs, como a moça que lhe dá lanche como brinde pela música que ouve e uma comerciária que a deixa usar o banheiro da papelaria.
Além da trilha gospel, Laurineide adora Amado Batista. Na letra da música Morro de ciúme dela, ele traduz um pouco do espírito da piauiense: “Quando ela passa na rua, é um reboliço geral/ Um grita, outro assobia, ela balança o astral”. Mas o repertório do artista é mais utilizado no fim de semana, quando ela se arruma, se maquia e vai para a Feira da Estrutural “escolher as verduras mais bonitas e ver o movimento”. Para o dia a dia, batom. Para o fim de semana, sombra e blush. “Me maquiei porque tinha a reportagem, minhas amigas até brincaram que eu estava periguetezona”, diverte-se.
Laurineide leva a sério o ditado que diz que quem canta seus males espanta. Por isso, faz questão de soltar a voz, sem vergonha das pessoas que eventualmente possam julgá-la. A música é seu instrumento para deixar a realidade mais doce e o trabalho menos árduo. “A única coisa que me entristece de verdade é a violência de Brasília”, diz. Atualmente, a preocupação é com a vinda da netinha. A filha de 15 anos está grávida e o ultrassom mostrou que a criança tem lábio leporino. “Fico preocupada porque o médico disse que precisa fazer cirurgia, mas vou cantar a Deus que tudo dê certo.”
Rumo à capital
Desde pequena, quando ainda vivia em São Raimundo Nonato, no interior do Piauí, Laurineigosta de soltar a voz. A infância difícil e sem recursos nunca a desanimou. Pelo contrário: seu jeito desinibido a trouxe para o Planalto Central. Quando tinha 15 anos, pediu a um vereador da cidade o dinheiro da passagem para Brasília. Lá na região da Serra da Capivara, ouvia dizer que na nova capital não faltavam oportunidades. “Falei pro meu pai que tinha ganho a passagem, e ele me mandou vender para comprar feijão. Quando ele saiu pro serviço, arrumei minhas coisas e vim sem autorização dele, só com a da minha mãe.” Quem levou a bronca, claro, foi ela, que deixou a filha viajar sozinha sem consultar o patriarca. “Meu pai é meu tesouro. Tenho saudades dele, faz 12 anos que não o vejo.”
Em Brasília, Laurineide casou-se, teve três filhos e construiu a vida em Santa Maria. Mas as constantes agressões do marido e as humilhações diárias a que ele a submetia fizeram com que Laurineide saísse de casa com as três crianças. “Ele me espancava muito. Não dava mais, dei queixa e pedi a separação.” De lá, ela comprou uma casa na Estrutural, próxima da residência de uma família vinda de São Raimundo Nonato. “Aí, eu e meu primo estávamos morando na mesma casa, perto um do outro. Deu certo, e agora estamos juntados”, contou. E a nova história de amor tem trilha sonora cantada a capela: é a música Vamos falar de amor, do grupo de forró Mala 100 Alça. “Eu canto pra ele: ‘Vamos falar desse amor, das nossas loucuras: /Queria te dizer o quanto sofro quando nós dois brigamos, amor, mas juro que tudo o que falo é da boca pra fora’.”
Laurineide estudou até a quarta série primária, mas o que ela aprendeu e ensina para as pessoas com quem convive todos os dias é que a alegria consiste na melhor companheira das dificuldades. E a música é uma boa maneira de extravasar sentimentos e deixar a vida mais leve.
Funcionários do bem-estar
Assim como Laurineide, trabalhadores comuns se tornaram celebridades pela alegria na batalha diária pela sobrevivência. Renato Luiz Feliciano Lourenço, mais conhecido como Gari Sorriso, trabalha no Rio de Janeiro e ficou famoso no carnaval de 1997. Durante um intervalo entre as apresentações das escolas de samba, ele
entrou para fazer a limpeza. Aproveitou, deu uma “sambadinha” e brilhou para as câmeras. Hoje, além de continuar gari, dá palestras para executivos sobre motivação no trabalho.
Alegre, sempre
Veja abaixo o que o bom humor pode fazer por você:
» Alivia a tensão o riso pode reduzir o estresse e a ansiedade.
» Ajuda na memorização rir durante a apresentação de uma aula, palestra ou espetáculo aumenta o interesse e facilita a aprendizagem.
» Atenua a dor
rir libera a endorfina, hormônio produzido no cérebro que produz sensação de bem-estar e alivia a dor.
» Diminui a pressão arterial no sistema cardiovascular, rir aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, o que promove a vasodilatação das artérias, ocasionando uma queda de pressão benéfica para os hipertensos.
» Fortalece o sistema imune
não está comprovado o fato de que quem ri fica menos doente, mas os pesquisadores sabem que o riso aumenta a liberação de células do sistema imune, fortalecendo as defesas do organismo.
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